esquizoativo

o hipocalipse das máquinas desejantes, o golem antiartístico, o ócio e a fofoca por mateus potumati

u cão foi quem butô novembro 23, 2007

outro dia, outra exposição. assunto repetido, mas por uma boa causa: o museu de arte contemporânea de chicago criou essa mostra explorando a relação entre arte e rock, escolhendo como ponto de partida o envolvimendo de andy warhol com o velvet underground, na segunda metade da década de 1960. pra completar, de terça feira a exposição é de graça, o que sempre deixa tudo mais legal.

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caía uma garoa fina, fazia frio e as nuvens cobriam o topo dos prédios mais altos. pra muita gente, isso costuma ser motivo pra ficar em casa. eu acho ducaralho andar quando faz frio – ok, ainda não é O FRIO, mas já é frio o bastante. e andar em chicago no outono é especialmente ducaralho para um nerd de quadrinhos: a névoa revela o lado gotham city da cidade, que fez a cabeça dos produtores de batman begins. como até cogitaram matar o morcegão recentemente, um rolê desses chega a ser quase um tributo. pena que não consegui fazer uma foto decente, a melhor foi esta:

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bom, à mostra. os curadores acharam um gancho legal: partiram da idéia de que arte contemporânea e rock nasceram antagônicos, e que o encontro entre os dois foi algo como arriscar um pacto com o tinhoso (daí o nome, “simpathy for the devil”). a arte colocaria em jogo sua seriedade; o rock, seu caráter subversivo e sua aura descompromissada. felizmente, ambos ganharam o duelo na encruzilhada e, juntos, produziram algumas das obras mais importantes do século XX.

como já esperávamos, era proibido fotografar. mas cara-de-pau e benevolência de alguns guardas sempre fazem milagres. esta de baixo é de uma série de entrevistas chamada “synesthesia: interviews on rock and art”, feita por tony oursler (da banda californiana poetics) com gente como david byrne, john cale, arto lindsay, thurston moore e kim gordon, entre outros. infelizmente chegamos muito tarde pra poder sentar e ouvir as entrevistas, e pelo que eu vi não é fácil conseguir esses vídeos, que parecem bem da hora. se alguém tiver sucesso, me avise.

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as obras ficam todas no segundo piso, em duas alas. a maior parte da exposição é dedicada aos EUA, com destaque à costa oeste e à contracultura, a detroit e a nova york. há também uma boa seção sobre o rock britânico e sobre os alemães. infelizmente, o recorte pára por aí. a participação do brasil se resume a uma referência textual ao tropicalismo (gilberto gil e os mutantes). japão, austrália, itália e tailândia são apenas citados. pena.

os destaques pra mim foram os seguintes:

– raymond pettibon, artista que entre outras coisas batizou o black flag e produziu capas para bandas como minutemen e sonic youth. tirei só esta foto de relance, porque nessa hora eles resolveram brincar de bad cop:

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– pedro bell, várias capas para o funkadelic:

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– jason rhoades, morto em 2006 e aclamado por suas instalações com neon e termos chulos. a mostra trouxe “velvet underground perfect world”, da qual eu consegui fazer duas fotos, mas que não ficaram nem perto da real shit. poucas coisas são tão emblemáticas sobre A AMÉRICA como neon, palavrão e velvet underground.

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(daí pra frente a reprê colou forte e não deu mais pra tirar foto.)

– painéis imensos originais do coletivo “anti-rock” de detroit destroy all monsters. mistura de arte performática, proto-punk, free jazz e estética de filmes de terror, o DAM foi fundado por mike kelley e endossado, entre outros, por ron asheton, dos stooges e mike davis, do mc5. apesar de nunca ter gravado um disco, o grupo foi emblemático na música de detroit, ligando os pontos entre sun ra e mc5, funkadelic e os stooges.

– parte da instalação original de exploding plastic inevitable, símbolo do envolvimento de andy warhol com o velvet underground.

futurama, ensaio fotográfico de kevin cummings sobore ian curtis, do joy division.

– rascunhos originais de peter saville para a lendária capa de power, corruption and lies, disco que alavancou a carreira do new order.

– cartazes, artes de discos e instalações de grupos alemães como einsturzende neubauten, neu! e can.

o programa da mostra também é criativo: uma playlist com 46 músicas relacionadas ao tema, acompanhadas de uma pequena descrição. seleção fina, que vai de beatles e rolling stones a red krayola e captain beefheart. a relação está disponível no site do museu. quem quiser ainda pode levar pra casa um catálogo classudo em capa dura, com todas as obras da mostra e textos explicativos, por US$ 50,00.

depois do sucesso do bob gruen na faap em 2007, bem que alguém no brasil podia se animar e levar essa mostra praí. daria pra colocar uma bela seção sobre arte e música no brasil, desde o tropicalismo até a street art de hoje, junto com o rap e tudo mais. valeria a pena.